A partir desta segunda-feira, 10 de novembro, Belém do Pará se tornará o epicentro das atenções globais com o início da 30ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Até o dia 21, líderes de Estado, cientistas, povos tradicionais, organizações da sociedade civil e representantes de setores econômicos estarão reunidos para debater o futuro climático do planeta. Trata-se de um momento histórico, que exige posicionamento firme e estratégico do Brasil e do Maranhão, que tem a oportunidade de ocupar lugar de protagonismo na agenda climática internacional.
Localizado na porção oriental da Amazônia Legal, o Maranhão desempenha papel geopolítico e ambiental de destaque, atuando como ponte entre os biomas Amazônia e Cerrado. Essa posição privilegiada o coloca no centro de decisões estratégicas que envolvem conservação ambiental, justiça social e desenvolvimento econômico. Com 181 municípios integrados à Amazônia Legal, o Estado concentra imenso potencial natural, cultural e produtivo, mas também carrega desafios estruturais que exigem planejamento consistente, inovação e coragem política. Enfrentar esse cenário significa transformar a pauta climática em projeto de Estado, articulando justiça social, proteção dos ecossistemas e crescimento econômico de forma integrada.
Essa caminhada não começou agora. O Maranhão tem histórico de construção de instrumentos estruturantes para uma política climática sólida. Foi durante o Governo Flávio Dino que demos um passo fundamental com a implantação do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) da Amazônia Maranhense, ferramenta estratégica para orientar o uso sustentável do território. A partir desse marco, ampliamos o zoneamento para o bioma Cerrado, consolidando uma base técnica e científica essencial para embasar políticas públicas duradouras.
A COP30 abre um novo ciclo de oportunidades. As decisões tomadas em Belém definirão fluxos de financiamento, estratégias de transição energética e mecanismos de compensação que moldarão o futuro do desenvolvimento na Amazônia. Para o Maranhão, isso representa a chance concreta de atrair investimentos estruturantes em bioeconomia, energias renováveis, reflorestamento, saneamento, infraestrutura resiliente e cadeias produtivas de baixo carbono. É hora de transformar nossa posição geográfica e ambiental em vantagem estratégica.
Mas oportunidades exigem preparo e liderança. Não basta assistir aos debates. É preciso atuar com voz própria, clareza de projeto e capacidade de articulação. O Maranhão deve consolidar uma rede forte de governança climática, unindo governos, universidades, setor produtivo e sociedade civil em torno de uma visão comum de desenvolvimento sustentável. É dessa convergência que surgirá a força política necessária para captar e aplicar recursos internacionais, influenciar decisões globais e defender os interesses do nosso povo.
Nosso território abriga povos indígenas, comunidades quilombolas, reservas extrativistas e populações rurais que já sentem no cotidiano os efeitos das mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, detemos riquezas ambientais únicas, cultura viva e um patrimônio científico em expansão, que nos habilitam a ser parte das soluções globais.
Planejar o futuro do Maranhão significa planejar nossas cidades, territórios e modos de vida. É urgente construir planos de adaptação climática integrados a políticas públicas de saúde, educação, infraestrutura e geração de renda. Não há desenvolvimento sustentável sem visão de médio e longo prazo, sem políticas consistentes e sem a participação ativa da população.
O Brasil chega a Belém diante do espelho do clima. O Maranhão reflete parte essencial dessa imagem: carrega desafios históricos, mas também juventude, diversidade, saberes tradicionais e ciência capazes de forjar um novo ciclo de prosperidade.
Como vice-governador, reafirmo meu compromisso com uma política climática de Estado: com planejamento, ciência, diálogo e ação concreta. Não seremos espectadores, seremos atores centrais na construção de um novo modelo de desenvolvimento mais justo e soberano.
Com sua diversidade, sua gente e seu potencial, o Maranhão está preparado para liderar, não apenas acompanhar. Este é o nosso tempo. Esta é a nossa voz no palco climático global.
Por Felipe Camarão
Vice-governador do MA
Professor Doutor da UFMA e UNDB



